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O MAPA DA VIOLÊNCIA EM UBERLÂNDIA

Crescimento econômico e criminalidade

 

CÁSSIO LIMA

A Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (TMAP) integra um conjunto de doze mesorregiões definidas pelo estado de Minas Gerais. Nesta geografia, Uberlândia carrega excelente localização geográfica em relação às demais regiões, com isso, gera considerável dinâmica econômica, social e política, por conta de sua posição privilegiada no centro do país. Estabelecida na região oeste de Minas, a cidade garantiu um contínuo ganho líquido de população, em relação ao restante do país, particularmente nas últimas três décadas. Na zona urbana, o crescimento assemelhou-se ao da capital, Belo Horizonte, segundo o último levantamento do IBGE, realizado em 2010.

 

A concentração populacional no meio urbano ocorre durante a consolidação do setor agroindustrial, incrementado pelo aumento da exportação de grãos para o mercado internacional e a mecanização dos modos de produção no campo. Em 2018, a Mesorregião atingiu um volume populacional de 1,16 milhão de residentes, em seus 24 municípios. O levantamento foi realizado pelo Centro de Estudos, Pesquisas e Projeto Econômico-Sociais (CEPES), órgão vinculado ao Instituto de Economia e Relações Internacionais (IERI), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O diagnóstico revela, ainda, uma taxa de crescimento populacional para os próximos anos em Uberlândia (ver gráfico).

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Capítulo 1: O Brasil passa por aqui

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O perfil econômico dos imigrantes, a taxa de desemprego ascendente e os índices de criminalidade têm sido objetos de estudo do CEPES/UFU. Segundo o economista, Henrique Souza, três fatores contribuem para o aumento populacional: emprego, saúde e educação. “Quem vem para Uberlândia procura melhores condições de trabalho, mas, também, busca qualidade de vida e qualificação”, explica o pesquisador ao apontar, também, a deficiência em fixar parcela da população na zona rural, quase sem rentabilidade. “Uberlândia exporta mão de obra de nível superior, ao mesmo tempo que atrai trabalhadores do ensino fundamental e médio”. 

O aumento da população urbana observada nas diversas regiões brasileiras, nas últimas décadas, confirma a tendência mundial de urbanização, em que mais de 50% da população prefere residir no meio urbano, segundo as Organizações das Nações Unidas (ONU). Ainda de acordo com a  instituição, até 2050, esse percentual deve atingir 70%. Em 2010, Uberlândia abrigava 57% dos habitantes da região, sendo que na zona urbana residia 97% dos 620 mil habitantes - registros do último censo do IBGE. O Instituto afirma que os outros municípios absolvem 43% da população, dentre eles: Araguari (110 mil habitantes), Ituiutaba (97 mil habitantes) e Monte Carmelo (46 mil), sendo que estes dois últimos atuam como referências micro-regionais.

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COMMODITIES

 

A maior parte das exportações da Região é de commodities, produtos pouco diferenciados e com baixo processamento industrial, cujos preços, normalmente, oscilam nas  bolsas de valores. Essa atividade econômica está submetida a diversas alterações de custos de produção, oferta e demanda, além dos movimentos especulativos do mercado financeiro internacional. A China é o principal parceiro comercial da região de Uberlândia e grande parte da produção escoa pelas rodovias federais, como as BRs 452, 365 e 050. Em decorrência disso, o município ficou conhecido como o destino da logística na região central do país. 

 

A economia uberlandense gira em torno do transporte de mercadorias dos setores agroindustrial e de serviços, esse último, com ênfase ao turismo de negócios, sediando alguns eventos e congressos de expressão nacional. A zona urbana recebe um índice elevado de imigrantes, desde 1970. Parte deles não possuem qualificação específica e estão inseridos em setores como da construção civil e/ou submetidos às atividades de baixa remuneração no comércio. No caso das mulheres, residentes em bairros periféricos, ocorre a prevalência de serviços domésticos, segundo informações do Sistema Nacional de Emprego (SINE), unidade Uberlândia.

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O USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

 

As configurações habitacional e social mudaram como o crescimento populacional de Uberlândia. Um duelo crescente entre a especulação imobiliária e as famílias sem condições de pagar aluguel,  impulsionando as ocupações urbanas. Nesse cenário de desigualdades, duas realidades são observadas num mesmo território: de um lado, estão os grupos criminosos, que beneficiam da ausência do Estado responsável por garantir a segurança pública, e de outro, os grupos em defesa da moradia (Direitos Sociais, artigo 6º da Constituição Federal de 1988) que lutam por equipamentos sociais que garantem a humanização destes espaços. 

 

Mesmo com a taxa de empregabilidade considerada mediana, em nível nacional, o município não consegue gerar postos de trabalho suficientes. A metade da população ganha um salário mínimo. De acordo com o CEPES/UFU, a tendência é de crescimento da taxa de desemprego, agravada pela crise econômica e política. ‘Eu vim de Montes Claros, sou manicure e pedicure. Em Uberlândia tenho sobrevivido com faxinas. Não consegui emprego em salões”, conta Marta Lourenço, que procura um emprego de carteira assinada no posto do SINE, no Centro da cidade.

 

BAIXOS SALÁRIOS

 

Entretanto, nem sempre a prosperidade econômica é sinal de baixa nos índices de criminalidade, aponta o economista Humberto Galdino. “Quando analisamos as ondas de roubo a carros fortes e caixas eletrônicos na cidade, podemos constatar que havia muito dinheiro em circulação”, adverte. Outro ponto levantado pelo pesquisador refere-se à informalidade, como forma de sobrevivência, já que o trabalhador urbano precisa encontrar formas de sustentar a família. “É uma forma de levar comida para casa. O fato é que a crise econômica acaba gestando uma crise social também”, explica Galdino. 

 

O  desemprego na periferia pode facilitar o assédio do crime organizado, tornando-se uma opção de empregabilidade. “As tipificações dos crimes de maior incidência de um ano para outro têm relações com a realidade econômica. Reflete ainda, o ciclo de baixo crescimento e o aumento do desemprego, modificando as taxas de criminalidade”, alerta. 

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Na estatística dos baixos salários, está o caminhoneiro Lucimar de Medeiros. Em 1990, ele veio de Estrela do Indaiá (MG) para Uberlândia. Há 15 anos na profissão, Medeiros já dirigiu ônibus e caminhões e se recorda dos perigos da estrada. “Assalto graças a Deus tive só um, mas levou só coisas pessoais mesmo, nada de muito valor”, lembra. O início da carreira foi no transporte de materiais recicláveis, depois passou para o ramo de armarinhos, também trabalhou com produtos da zona franca de Manaus, dentre eles motos e eletroeletrônicos. “Nos últimos anos, transportei combustíveis e, hoje, carrego produtos resfriados. O trajeto mais longo que eu fiz foi de Belém a Porto Alegre”, informa Medeiros que têm saudades das paisagens do Sul, algumas registradas no aparelho celular. 

Com uma década e meia nas rodovias, o caminhoneiro queixa das condições de trabalho e chama atenção para a matriz econômica do transporte rodoviário. “É uma profissão muito desvalorizada. A prova disso é o que aconteceu no ano passado, com a manifestação que tivemos começou a faltar muitas coisas”, relembra. Atualmente, Medeiros prefere viagens curtas, para ter mais tempo com a família. “Gosto do que faço. Estou sempre em casa, nem dá para sentir tanta saudades. Hoje, não penso em parar”. Conta ainda, que pretende cruzar os braços só na aposentadoria, é contribuinte autônomo do Instituto Nacional da Previdência Social (INSS).

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O Jornalismo Já é uma iniciativa do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia, com objetivo de informar através de reportagens, mídias-resenhas e textings. 

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Produção de conteúdo: 10ª turma de Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia, sob orientação dos professores drs. Raquel Timponi, Reinaldo Maximiano, Aléxia Pádua e Adriana Omena.

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