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REDUZIDOS A  1/3:

A dizimação dos povos indígenas pela ambição e negligência do atual governo

(Foto: Pablo Albarenga)

Nos demos espelhos e vimos um mundo doente

Por Pedro Souza, Lucas Ribeiro e Gabriela Carvalho 

Como todos sabem, em 1500, ocorreu a chegada portuguesa às terras que viriam a ser as brasileiras. Carregados de preconceitos e com a ideia de estarem nas Índias Ocidentais, os portugueses nomearam os povos que aqui habitavam de “índios”. Fiéis aos seus próprios valores, esses receberam bem os europeus, que retribuíram a gentileza com a destruição da natureza, em busca de metais, de matérias-primas. Coisas que os indígenas reconheciam como de casa e de presentes da Mãe Terra.

 

Fascinados frente às terras encontradas e instigados pelos bens que poderiam ser explorados, deu-se início, então, ao genocídio. Em nome da ganância e da expansão que marca as chamadas Grandes Negações Européias (entre os séculos XV e XVII) religiosas, diversos indígenas sofreram violência física e cultural . Seus laços afetivos com a tribo, com a terra, com a natureza foram cortados. Esses acontecimentos tornam-se mais visíveis quando comparado em consonância aos dados da FUNAI, haja vista que, segundo ela, em 1500 haviam cerca de 3 milhões de indígenas vivendo nas terras brasileiras. Todavia, em 2010 o número já está próximo dos 800 mil.

O novo continente encontrado já era habitado e cultivado pela população nativa e, mesmo assim, os recém-chegados sentiram-se no direito de invadi-lo e de extinguir toda cultura e natureza existentes. Como será visto adiante nessa reportagem, os povos indígenas não enxergam a terra apenas como um terreno, um simples espaço. Para eles, ela é Mãe genitora de tudo que é vivo, onde estão seus antepassados, suas raízes, como ressaltado pelo Papa Francisco: “para os indígenas, a terra não é um bem econômico, mas um dom gratuito de seus antepassados”.

Já nos dias atuais, a situação dos indígenas brasileiros não se tornou melhor, mesmo com o amparo legal por meio de convenções internacionais que abordam os direitos da população indígena das quais o Brasil é signatário. Uma delas é a Convenção nº 169 da OIT sobre povos indígenas e terras tribais e, como diz o decreto assinado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva que reconhece as aspirações desses povos a assumir o controle de suas próprias instituições, de suas formas de vida, do seu desenvolvimento econômico e manter e fortalecer suas identidades, línguas e religiões, dentro do âmbito dos Estados onde moram. Há, também, a Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas, que estabeleceu diretrizes universais de padrões mínimos de sobrevivência para a dignidade e o bem-estar dos povos indígenas.

Mesmo com o aparente respeito à população indígena e aos seus modos de vida, grandes retrocessos ocorreram nos últimos anos, com atenção no de 2019, primeiro do governo de Jair Bolsonaro, autor de frases como: “não tem terra indígena onde não tem minerais. Ouro, estanho e magnésio estão nessas terras, especialmente na Amazônia, a área mais rica do mundo. Não entro nessa balela de defender terra pra índio” - por ocasião de entrevista no Comando Geral da Polícia Militar, após receber a Medalha Tiradentes, em 22.4.2015 - e “não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola” - em palestra no clube Hebraica, em 3.4.2018 (quando ainda era apontado como presidenciável).
 

Frente ao histórico de invasão de terras e de genocídio, o povo indígena luta por seus direitos representando uma resistência secular. Eles lutam para manter vivos a sua cultura, o seu povo e os seus conhecimentos, mesmo depois de tantas derrotas. Em 1500, para os portugueses, foi a chegada em terra firme, mas, para os indígenas foi o desabamento dela.



 


















 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 

 

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CAPÍTULO 1

Política indigenista

Letícia Yawanawa, do Acre, segura bandeira do Brasil a caminho do Coliseu Madre de Dios, local onde houve encontro do Povos Indígenas do Brasil com o Papa Francisco. (Foto: Tiago Miotto/Cimi)

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CAPÍTULO 2

Representatividade Indígena

Cena do documentário Piripkura (Foto: Documentário)

Sônia Guajajara 

 

Sônia Bone de Souza Silva Santos (nome civil de Sônia Bone Guajajara) é do povo Guajajara/Tentehar e nasceu na Terra Indígena Arariboia, no Maranhão. De origem simples e filha de pais analfabetos, recebeu a ajuda da Funai para cursar o ensino médio em Minas Gerais, deixando suas origens pela primeira vez aos 15 anos. Retornou ao Maranhão onde se formou em Letras e Enfermagem e concluiu sua pós-graduação em Educação Especial. 

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Sônia Guajajara (Foto: Reprodução Facebook)

Começou sua militância indígena e ambiental na juventude nos movimentos de base, chegando ao Congresso Nacional como linha de frente contra projetos que ameaçavam o meio ambiente e retiravam direitos do povo indígena. Sônia foi ganhando projeção internacional por sua luta pelos direitos dos povos originários e no Brasil recebeu prêmios e honrarias como o Prêmio Ordem do Mérito Cultural 2015 do Ministério da Cultura recebido das mãos da então presidenta Dilma Rousseff. 

Em 2010, Guajajara entregou o prêmio Motosserra de Ouro para a ministra da Agricultura Kátia Abreu, na época, como forma de protesto contra as alterações do Código Florestal. Em 2017 subiu ao palco do Rock in Rio convidada pela cantora Alicia Keys para discursar contra o governo Temer e pela demarcação de terras indígenas. Além disso, tem voz no Conselho de Direitos Humanos da ONU e já levou denúncias para as Conferências Mundiais do Clima (COP) de 2009 à 2017. 

A líder também tem voz no Parlamento Europeu e outros órgãos e instâncias internacionais e já recebeu a Medalha 18 de Janeiro pelo Centro de Promoção da Cidadania e Defesa dos Direitos Humanos Padre Josimo no ano de 2015. Recebeu também a Medalha Honra ao Mérito do Governo do Estado do Maranhão por sua articulação com os órgãos governamentais no período das queimadas na Terra Indígena Arariboia, sua terra de origem. 

A candidatura de Sônia à vice-presidência 

Guajajara é membro do Setorial Ecossocialista do PSOL desde 2011, se lançou como pré-candidata à Presidência da República no 6º Congresso Nacional do partido, propondo uma candidatura indígena, anticapitalista e ecossocialista com o manifesto “518 anos depois”. 

Durante a Conferência Cidadã, evento de movimentos sociais e artísticos que aconteceu na cidade de São Paulo, ela se colocou à disposição para compor a chapa de Guilherme Boulos. Na mesma semana, Sônia retirou oficialmente sua pré-candidatura em favor da aliança com Boulos. O fato ocorreu durante debate entre os pré-candidatos no Rio de Janeiro. 

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Sônia Guajajara e Guilherme Boulos em conferência eleitoral do PSOL. (Foto: Nunah Alle/PSOL)

Em 10 de março, na Conferência Eleitoral do PSOL, os 126 delegados decidiram que Sônia seria, de fato, a pré-candidata à Vice-Presidência e sem votos contrários. Durante a Conferência, Sônia falou sobre a luta do MTST: 

“A luta que o MTST faz aqui na cidade é a luta que nós fazemos em nossas aldeias pra garantir nosso território, que é nossa morada, nossa casa. As ocupações da cidade são as nossas retomadas lá no campo. É uma luta só. O que diferencia a gente é o lugar que travamos essa luta. Não podemos mais aceitar as imposições de uma minoria que não representa ninguém, só a si mesma”. (fonte: site do PSOL) 

  

Sônia Guajajara é hoje uma das maiores líderes indígenas e ambientais do mundo. Atua como coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e esteve à frente das principais lutas travadas pela causa, unificando mais de 305 povos e luta por pautas que combatem os interesses dos setores mais poderosos da sociedade brasileira. 

A líder já enfrentou diversos embates no Congresso Nacional em prol de ir contra uma série de projetos e propostas de emendas constitucionais que visam retirar direitos conquistados arduamente e ser contrária à projetos neodesenvolvimentistas dos últimos governos, tais como construção de barragens, estradas e hidrelétricas, ameaça para as terras indígenas e pro modo de vida dessa comunidade. Guajajara já foi tema de diversos documentários, notícias de jornais, revistas e telejornais tanto do Brasil quanto do exterior, além de vários livros. 

Piripkura

 

O documentário se inicia com a manifestação de índios concentrados no Senado em Brasília. Revoltados com a situação que vivenciam na busca de seus direitos, utilizam de pequenos caixões produzidos por papelão como forma de mostrar e revolta com tudo isso. Ao longo da narrativa, é visto índios chorando diante da problemática que se encontram, sendo ela, a desvalorização dos direitos que todo ser deveria ter. Os nativos, já cansados de toda situação, se deixam levar pela emoção e um deles declara: "também vão chorar por estar fazendo isso com um povo". Mostrando que, a luta continua mesmo que não tenha o resultado esperado. 

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Cenas do documentário Piripkura. (Foto: Reprodução Documentário)

Vivência de Pakyi e Tamanduá 

Tomando como destaque a experiência, é algo que chama a atenção no drama que os nativos vivenciam. Os Piripkura criaram uma língua de sinais, símbolos e ideias em que só eles entendem. A resistência dos nativos vista durante o documentário é espetacular. No mesmo momento direciona a comparação de como seria outras possíveis situações diante dos impasses que enfrentam ao longo dos dias. 

Narrativa 

A narrativa toma como foco a relação de natureza e os Piripkura atribuindo imagens e sons espetaculares exclusivos da mata que aumenta a elasticidade do documentário. Surge assim, a participação desses dois indígenas nômades, do povo Piripkura, que buscam sobreviver diante dos fazendeiros e madeireiros numa área ainda protegida no meio da floresta amazônica. 

        

Jair Candor, servidor da FUNAI, acompanha os dois desde 1989. Ele realiza expedições periódicas, muitas delas acompanhado por Rita, a terceira sobrevivente Piripkura que se tem notícia, para monitorar vestígios que comprovem a presença deles na floresta e para impedir a invasão da área e em uma das cenas, Rita reconhece objetos dos Piripkura a partir da identificação e o modo em que fazem utensílios sendo importante lembrar que Pakyi e Tamanduá vivem com um facão, um machado cego e uma tocha. Rita ajudou muito para a procura dos “Piripkura”. O documentário pode ser dividido em duas partes, a primeira em que Rita está presente e na segunda parte em que ela se ausenta. Jair começa de vez a sua participação como procurador dos sobreviventes. Quando finalmente acontece o encontro há um estranhamento  das duas partes, já que como levantado, os índios buscam não ter essa aproximação dos brancos, existe toda a questão do medo mediante a possibilidade de prejudicá-los. Contudo, Jair trata os nativos com o máximo de respeito possível abordando-os de maneira a não impor sua cultura e respeitá-los. 

Cena destaque 

O destaque é a cena em que Pakyi e Tamanduá gritam a palavra “fogo” no momento que se encontram com os integrantes da FUNAI. Essa palavra remete diretamente nas últimas recordações que esses sobreviventes passaram, ou seja, momentos em que presenciaram um grupo ateando fogo sobre a área reservada aos mesmos e o seu próprio povo sendo morto. 

        

Algo muito triste, mas que foi de grande importância mostrar esse momento. Podemos ver que os nativos se abriram de tal forma que conseguem se expressar mesmo que não utilizem da mesma língua que os homens da cidade, assim se comunicam em seu modo rico de sinais. Ali, com toda certeza ocorreu uma relação de confiança e principalmente o desabafo, foi o momento de mostrar sua indignação e medo. 

  

Notícias recentes sobre Pakyi e Tamanduá 

Segundo o site Edição MS, no final de 2018, os dois últimos sobreviventes do povo Piripkura enfrentaram mais um novo conflito. Tamanduá foi diagnosticado com um cisto no cérebro, onde teve que passar por uma cirurgia, e que infelizmente, teve complicações no pós-operatório e foi internado na UTI. O outro nativo Pakyi teve o diagnóstico de próstata aumentada, mas foi submetido a tratamentos. É importante ressaltar que, a renovação da proteção ao território que a dupla vive vence ainda no ano de 2018 e depende da comprovação de que a Terra Indígena é habitada pelos índios como mencionado acima. 

Cacique

Como exemplos de indígenas que ainda resistem em existir em meio a políticas e a sociedade que os oprimem tem-se a Cacique Lurdes Tupinambá.

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CAPÍTULO 3

Desarmando preconceitos

(Foto: Pablo Albarenga)

Iago Caubi, indígena e estudante de Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) reage à notícias e questões envolvendo preconceito e doutrinação em cima da comunidade indígena.

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CAPÍTULO 4

Resgate e Identidade

Indígenas participando do Encontro de Culturas Tradicionais (Foto: Anne Vilela/Divulgação)

Radio Yandê

 

A Rádio Yandê iniciou em sua forma de streaming no dia 11 de novembro de 2013, e é composta integralmente por indígenas (Anápuáka, Aratykyra, Denilson, Daiara, Vavá, Idjahure e Yakuy). a rádio tem sede no Rio de Janeiro, sobretudo, sua projeção é nacional. A rádio Yandê tem como objetivo principal a amostra da cultura indígena através da sua inserção no mundo da tecnologia e da internet. Outro foco da Yandê é mostrar a possibilidade de ocorrer a comunicação via rádio dentro das aldeias, permitindo assim, um contato maior entre os ameríndios. 

Na programação da rádio possui atrações que permeiam na área da informação e da educação com a finalidade em mostrar mais de perto a realidade indígena existente no país. Entre as problemáticas levantadas é justamente desfazer estereótipos que se concretizaram na história pela falta de informação observada diretamente por indígenas. Dessa forma, a rádio estabelece relação maior com os ameríndios e serve também como um meio para explicar como realmente é a realidade dos indígenas no país. 

Você pode acessá-la por aqui.

Nos museus

 

A arte indígena tem se destacado na contemporaneidade. Atualmente podemos ver exposições de arte inspiradas na arte desses povos ou até mesmo feita por artistas indígenas como no caso da mostra ‘Vaivém’, de curadoria de Raphael Fonseca, crítico e historiador da arte. A mostra está aberta ao público no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo. 
 A exposição tem como tema, na realidade, a rede de dormir e suas relações com a construção da identidade brasileira, porém, a rede tem ligação direta com o povo ameríndio: para eles, ela representa uma extensão do corpo. Sendo assim, além de demais artistas, a mostra traz trabalhos inéditos de mais de 30 artistas contemporâneos indígenas como Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e o coletivo MAHKU, tendo estes se destacando  com suas artes que retratam a cultura de seus povos.

‘Vaivém’ traz entre suas redes, depoimentos e imagens do objeto inserido em diversos ambientes, com destaque para o ambiente de origem. Em uma parte da exposição, podemos conferir imagens e um canto indígena sobre a amizade entre homem e mulher.
A arte ameríndia vai além das pinturas de pele, ela inclui costumes, formas, ancestralidade… Toda riqueza de um povo que vive em paz com a natureza e sustenta uma gratidão pela mãe-terra. E é sobre isso que sua arte fala, mostra e respira. Temos a presença da natureza, dos animais, viva em cada traço. Tudo remete às paisagens que cercam a história desse povo e que, dolorosamente, ele assiste a modernidade destruir.

Oficina

Como alternativa para resgatar a cultura indígena, alguns estudiosos realizam pesquisas acerca de elementos da mesma, como o professor Marcelo Ponchio, que experienciou um contato próximo com os povos indígenas e realiza oficinas de pinturas corporais.

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