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SEM JOGOS, CEM PROBLEMAS

PRÉ-JOGO

Diferente dos grandes times do futebol brasileiro, alguns clubes do interior não tem campeonatos para disputarem, principalmente no segundo semestre do ano. Na maioria das vezes, os clubes possuem apenas o campeonato estadual para pleitearem, que dura cerca de quatro meses. Depois deste período, caso não haja classificação para campeonatos nacionais (Campeonato Brasileiro, séries B, C ou D), os clubes menores se veem sem cronograma de jogos.

Os times passam por longos períodos sem participarem de disputas oficiais e isso gera dificuldades no desenvolvimento e na evolução do elenco. A não permanência de jogadores no clube resulta na rotatividade de elencos, gerando, então, a falta de entrosamento. Outros obstáculos estão relacionados à baixa renda e ao distanciamento entre o clube, a torcida e a mídia.

Longe das cifras milionárias dos clubes do primeiro escalão, muitos dos pequenos do interior lutam por sua sobrevivência e, muitas das vezes, se mantém na base da paixão e sofrimento dos torcedores mais fiéis e fanáticos. Nesta reportagem, mostraremos a realidade vivida pelos clubes que enfrentam problemas financeiros, logísticos, estruturais e organizacionais.

     

              Por Lucas Eduardo Silva, Juan Madeira e Vitor Bueno

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PRIMEIRO TEMPO

A situação do futebol em Minas Gerais

Em Minas Gerais, a falta de campeonato para serem disputados pelos clubes do interior é nítida. Enquanto dois clubes (Atlético e Cruzeiro) possuem três competições, quinze equipes não disputam nenhuma competição no segundo semestre. Outro dado da situação do futebol mineiro é que os doze times que disputaram o Módulo II (segunda divisão do campeonato mineiro) não possuem nenhum outro torneio para disputar. Além deles, outros três times que disputaram o módulo I, também não possuem jogos no segundo semestre.

Dentre estes três, está o Guarani de Divinópolis, que ficou no penúltimo lugar do Módulo I. O presidente do clube, Vinicius Morais, explica onde são concentrados os esforços do clube na ausência de uma calendário de jogos. “Durante o período sem competição, o clube funciona na parte administrativa. O departamento de futebol fica ativo apenas na parte de monitoramento e acompanhamento de jogos. O clube funciona, basicamente, no planejamento para a base”, explica.

 

O presidente do clube de Divinópolis alerta que essa realidade prejudica o futebol brasileiro e não apenas os clubes interioranos. “Enquanto equipes fazem até 70 jogos por ano, temos equipes em Minas Gerais que acabam disputando só seis. Temos esse paralelo de que enquanto um número pequeno de times joga um número excessivo de jogos, muitos clubes disputam poucas partidas”, avalia.

O dirigente apresenta outros fatores que prejudicam os jogadores e o departamento comercial dos times: “Grande parte dos atletas não consegue ter sequência em um clube, às vezes, tendo até que trabalhar fora do futebol. Muitas vezes os jogadores recebem apenas quatro ou cinco vezes no ano. Isso prejudica o desenvolvimento do atleta. Comercialmente atrapalha também, pelo fato de ser mais difícil vender um patrocínio quando você tem a possibilidade de fazer apenas onze jogos no ano”, finaliza.

Outro dos times prejudicados é o Villa Nova, de Nova Lima. O clube, que vive litígio na justiça por conta de uma escalação irregular, não sabe se jogará o módulo I ou o II do Campeonato Mineiro em 2020. 

Luizinho, ex-lateral direito e hoje um dos dirigentes da equipe, relatou que o foco do Villa, após o término das competições da equipe profissional, se volta para a base e completou sua visão explicando que a falta de continuidade é danosa para o time. “Os jogadores que são do clube não possuem sequência dentro da equipe e por isso precisam ser emprestados”, finaliza o dirigente.

 

Para o presidente da diretoria executiva do Uberlândia Esporte Clube (UEC), Flávio Gomide, a questão da falta de campeonatos no segundo semestre é complexa por conta das despesas. "Quando o clube não possui jogos no segundo semestre, ele fica com seu departamento de futebol parado, mas com despesas rodando, como salários administrativos e manutenção do centro de treinamento”, explica. 

 

Na temporada de jogos, segundo Gomide, as despesas são maiores. “Para jogar no Parque do Sabiá, a equipe tem de pagar R$ 21.000. Tem a taxa de arbitragem, quadro móvel, o mascote e outros profissionais”. O dirigente observa que o déficit ocorre tanto nos períodos cobertos por calendários de jogos quanto fora deles, pois envolve a sustentabilidade financeira da instituição. “É uma luta muito grande”, define.

Criação de outros campeonatos

Tendo em vista a falta de jogos para 62% dos times de Minas Gerais, uma possível solução seria criar alguma competição regional para o segundo semestre do ano. Exemplos como a Copa Paulista e a Copa Rio são bons exemplos no cenário brasileiro.

Um modelo semelhante, a “Taça Minas”, chegou a existir até o ano de 2012. Porém, por conta da falta de planejamento e investimento, a competição deixou de existir. “A competição parou porque só seis clubes eram interessados em disputar, depois o número caiu para três e não se faz campeonato com três clubes”, explica Flávio Gomide. 

O dirigente defende que seriam necessários atrativos para que os clubes possam disputar mais campeonatos. “Se na Taça Minas Gerais tivesse cota de um milhão para cada clube e o campeão disputasse a Copa do Brasil, as equipes iriam se interessar”, estima.

Éder Soares, assessor de imprensa do UEC critica a Federação Mineira de Futebol (FMF), pelo fato de não dar o suporte necessário para os clubes afiliados. “São Paulo tem a Copa São Paulo, no Rio de Janeiro tem a Taça Rio, que as equipes do interior disputam, e dão vaga para a Copa do Brasil, para a Série D do Campeonato Brasileiro. A FMF é a única, infelizmente, entre as principais, que não tem se esforçado muito nos últimos anos para tentar viabilizar uma competição deste tipo, que é muito importante para dar calendário para as equipes do interior”, elucida.  

A reportagem tentou contato com a Federação Mineira de Futebol, mas até o fechamento desta edição não houve resposta.

No vídeo a seguir, Flávio Gomide, e o assessor Éder Soares, expõem as questões que envolvem a falta de um calendário de jogos no segundo semestre e a sustentabilidade do UEC. E apresentam, ainda, sugestões para solucionar o problema.

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SEGUNDO TEMPO

Dúvidas dos jogadores

O meia Ewerton Maradona, que atuou, em 2019, na campanha de acesso do Uberlândia à elite do campeonato mineiro, comenta que há uma ampla diferença entre os grandes times do futebol brasileiro e as equipes menores do interior. Para o atleta, a parte financeira carente e a falta de calendário são questões que fazem os times pequenos sofrerem na tentativa de ascenderem no cenário do futebol nacional. “As equipes do interior, geralmente, não têm dinheiro para formar um elenco forte, além de não terem calendário de jogos para o ano todo”, afirma. 

Por esses motivos, o atleta explica que os clubes fazem contratos de, no máximo, 4 meses com o jogador. “Isso é muito ruim para nós, porque acabamos não criando uma raiz no clube. Acabamos, por conta do pouco tempo do contrato, não nos identificando muito, não criamos um laço com a torcida nem um vínculo com o clube, pode ser que aconteça, mas é muito difícil”, explica o meia.

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Foto: Fernando Aquino/ UEC

 Quanto à solução do problema, Ewerton propõe a criação de um novo campeonato. “Eu acredito que deveria haver um campeonato, ou copa, para os clubes do interior terem calendário para disputar o ano todo. Para o jogador ficar no mínimo um ano no clube”, defende.

Além disso, Maradona sugere, ainda, que mais times sejam inseridos no Campeonato Brasileiro. “Deveria ter mais clubes, principalmente, na Série D ou, até mesmo, a criação de mais uma divisão, para que as equipes não sofram com a falta de calendário. É triste jogar 3 ou 4 meses e depois não ter mais nenhuma perspectiva”, finaliza o meia.

O artilheiro do módulo dois do Mineiro, em 2019, Jhulliam Pires, endossa a opinião de Maradona no que se refere a uma temporada específica de jogos. "É muito complicado clubes que não tem um calendário, as federações deveriam criar uma forma de dar calendário aos clubes, para mantê-los em atividade".

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NAS ARQUIBANCADAS

O presidente da Torcida Inferno Verde, Flaviano Rodrigues, o Flaviano como é conhecido, explica que há atividades programadas tanto para os períodos de jogos, como para os períodos sem competições do Uberlândia. Flaviano reconhece que a falta de um calendário anual para o time profissional, com jogos no primeiro e no segundo semestre, é um elemento que dificulta a torcida a se manter ativa. “É muito complicado para uma torcida organizada não ter jogos para acompanhar. Isso acontece com todas as torcidas que não tem cronograma anual de jogos do seu clube”.

Para movimentar os amantes do clube alviverde, algumas ações sociais são feitas. “A gente tenta fazer um churrasquinho e algumas confraternizações. No dia das crianças, por exemplo, juntamos brinquedos e distribuímos para os jovens na festa de Romaria de Nossa Senhora da Abadia”, explica. Além dessas ações, Rodrigues explica que a organizada ensaia novas músicas para os jogos, prepara novidades para o ano seguinte, acompanha as equipes juniores e, também, o time de vôlei feminino do Praia Clube. 

O presidente da organizada relata que, em 2019, a boa campanha do Uberlândia que resultou subida para a primeira divisão do mineiro, em 2020, motiva a torcida a impulsionar o time  a conquistar uma vaga na Copa do Brasil e também no Série D do Campeonato Brasileiro. 

Em relação às torcidas, Flávio Gomide, presidente da executiva do Uberlândia, critica a cultura existente no Brasil. “Você vai na Europa, na quarta divisão do Campeonato Inglês, o estádio está lotado. Aqui no Brasil, um time cai para segunda divisão, diminui mais da metade de torcedores nos estádios. A demanda social no Brasil é diferente”, relata. Para Gomide, falta maior identificação do torcedor com o time.  “A cidade de Uberlândia torce para outros time como Flamengo, Corinthians, São Paulo, e isso lá na Inglaterra não existe, os torcedores são fiéis aos times de suas regiões”, completa.

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APITO FINAL

A situação do Futebol em Minas Gerais

As dificuldades pelas quais os clubes passam variam. No Campeonato Mineiro Módulo II de 2019, o time do Tricordiano, de Três Corações, desistiu de disputar, por conta da interdição do estádio Elias Arbex. A desistência acarretou em punição por parte da FMF, que proibiu a equipe de disputar qualquer competição estadual nos próximos dois anos e multou o clube em R$ 100 mil.

Neste cenário emergem equipes com uma forma de gestão diferente do habitual, popularmente chamados de “clubes de empresários” que possuem metas para a sustentabilidade financeira. Um time tradicional tem como meta os títulos, já os empresários, buscam investimento e lucro, vendendo jogadores que se destacam.

Acompanhe esses e outros temas no Retranca, um podcast sobre o esporte interiorano. Nesta edição, conversamos com os radialistas Luiz Lara (Rádio América) e Marco Franco (Rádio Vitoriosa).

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